Grupos de cessação ao Tabagismo nas unidades de saúde ajudam pacientes de São Cristóvão a parar de fumar

09/04/2024 - 12:08 Atualizado há 18 horas



Em 2024, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Cristóvão, através das Equipes de Saúde da Família, implantou Grupos de Tabagismo nas Unidades Básicas de Saúde das cinco macroáreas que abarcam o município. Esses grupos fazem parte do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, iniciativa do Ministério da Saúde abraçada pela Cidade Mãe para auxiliar a comunidade fumante a parar de fumar. 

 

Os Grupos de cessação ao Tabagismo começaram a acontecer semanalmente em seis Unidades Básicas de Saúde ao redor do município, levando em conta o alcance do programa para todo território. São elas a UBS Jairo Teixeira de Jesus, UBS Irônia Maria Aragão Prado Meireles, UBS Bruno Kaique de Souza Santos, UBS José Rodrigues Amado, UBS Maria José Soares Figueiroa e UBS Mariano do Nascimento. A SMS já conta com estratégias de expansão do programa e em breve novas unidades também contarão com a oferta de tratamento.

 

 

Após o ciclo de reuniões semanais, elas passam a ser quinzenais, depois mensais, até a equipe avaliar a melhora dos pacientes, que são liberados do tratamento. Com o espaçamento das reuniões, as UBS abrem vagas para iniciar novos grupos. Para acessá-los, basta procurar a unidade de saúde mais próxima e a equipe encaminhará o paciente ao tratamento.

 

A coordenadora de Doenças Crônicas Não Transmissíveis de São Cristóvão, Rosely Mota, explica que desde o ano passado o município se prepara para implantar o programa, com oficinas capacitatórias para os profissionais das unidades de saúde ministradas pelo INCA. 

 

“Seguimos um modelo lógico organizacional que é do próprio Ministério da Saúde e do INCA. Então, foram formados grupos de tratamento, ou também o tratamento individual, nas unidades. O acompanhamento é baseado numa terapia que chamamos de TCC - Terapia Cognitiva Comportamental, que, segundo vários artigos, é o que realmente traz mais efeito e mais traz resolutividade.O paciente pode ou só usar essas sessões baseadas no TCC ou também pode usar o tratamento medicamentoso, não necessariamente ele vai usar só um ou só o outro”, explica a coordenadora.

 

Rosely Mota, coordenadora de Doenças Crônicas Não Transmissíveis de São Cristóvão

 

Além de participar das reuniões, compartilhando o processo com outros pacientes e recebendo informações dos profissionais de saúde, os integrantes dos Grupos de cessação ao Tabagismo também recebem terapias através de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, como ventosaterapia, auriculoterapia, massagens, entre outros. 

 

Junto aos encontros, ao acompanhamento e às terapias, o mais importante passo para esses pacientes é o acesso ao tratamento medicamentoso ofertado pelo SUS. Eles recebem terapia de reposição de nicotina, por meio do adesivo transdérmico e goma de mascar, e o cloridrato de bupropiona. Esses medicamentos têm um papel significante para a eficácia da jornada de cessação do tabagismo, pois minimizam os sintomas da síndrome de abstinência à nicotina. Contudo, os medicamentos não devem ser utilizados isoladamente, mas em associação com uma boa abordagem, como a participação nos grupos, que é a única via de acesso ao tratamento medicamentoso.

 

Medicamentos ofertados pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo no SUS São Cristóvão

 

Um grupo que fortalece pacientes e profissionais

 

Na UBS Mariano Nascimento, a Cirurgiã Dentista da Equipe de Saúde da Família, Ivinny Viana Barbosa, decidiu ser capacitada pelo INCA para gerenciar o grupo de tabagismo por uma ligação pessoal com a luta contra a doença: “Meu pai, meu avô e meu tio faleceram de câncer. Meu tio fumava muito e essa é uma das características do câncer de cabeça e pescoço. Ele só foi contar que estava com os sintomas no final, então eu fiz de tudo por ele, levei nos médicos, nos melhores profissionais que podia, mas não consegui fazer muito”. 

 

Ivinny Viana Barbosa, Cirurgiã Dentista da Equipe de Saúde da Família

 

Com a perda familiar, a profissional se tornou uma militante da causa do tabagismo, trabalhando para conscientizar o maior número de pessoas a não começar a fumar ou parar o hábito, o que levou-a a iniciar o trabalho no programa. Para ela, a junção de terapias e o uso de medicamentos faz toda a diferença para a melhoria dos pacientes. Com a percepção dos resultados em seu grupo, ela destaca a importância do uso da medicação para uma maior eficácia.

 

“Quando vemos o Ministério da Saúde mandando as medicações, isso dá um gás para o profissional, incluindo as pessoas no grupo. Estou tendo um resultado positivo! Os pacientes que estão na quarta sessão já pararam de fumar. Tem outras duas que já estão nas próximas sessões e mandaram um feedback positivo, que pararam de fumar depois de anos”, destaca a dentista.

 

Grupo de tabagismo da UBS Mariano Nascimento

 

Uma dessas pacientes é Maria Lúcia da Silva, que está há um mês frequentando o grupo e é a primeira vez que consegue persistir em seu desejo de parar de fumar. Fumante desde os 13 anos, aos 62 ela tem certeza que desta vez vai conseguir, pois foi uma promessa que fez à neta no dia de seu nascimento. 

 

“Só tenho um filho único e minha única neta. São os amores da minha vida. Quando eu a segurei pela primeira vez no hospital, não tinha meia hora de vida. Eu virei para ela com vontade de chorar. Eu ia parar de fumar e não consegui. Nos quinze anos dela, eu também prometi. Foi uma festa linda, eu fiz bem arrumada, e saí oito vezes pra fumar, porque dentro do salão de festas não podia. Aquilo me doeu por dentro”, conta

 

Maria Lúcia da Silva, integrante do grupo de tabagismo

 

Antes da participação do programa de combate ao tabagismo, Maria Lúcia participou duas outras vezes de grupos de apoio para cessar o vício, mas não teve a mesma eficácia porque ela não teve acesso aos medicamentos ofertados pelo programa. “Eu fumava uma carteira de cigarro. Eu só ia dormir quando terminava. Se eu fosse para cama e não tivesse fumado ainda uns vinte cigarros, eu acordava para fumar aqueles últimos em casa, e no outro dia de novo”.

 

A paciente acredita que compartilhar as experiências em grupo ajuda a fortalecer o propósito de quem está tentando parar de fumar. “Vamos conseguir, com essa ajuda primeiramente de Deus e do órgão público que está dando essa chance para gente, dando a medicação e os adesivos, que são muito importantes, e essas terapias gostosas demais”, anima-se Maria Lúcia, com a esperança de continuar vencendo o tabagismo com o apoio de novos amigos e dos profissionais de saúde que a acompanham.

 

Fotos: Clara Dias, Dani Santos e arquivos da SMS