Vacinas contra a covid-19 atravessam o rio Vaza-Barris para imunizar quilombolas da Ilha Grande

09/04/2021 - 20:46 Atualizado há 7 horas



O barco pesqueiro que diariamente faz a travessia entre a Ilha Grande e a cidade de São Cristóvão atracou nesta quinta (8) no conhecido Porto do Dedé, no povoado Pedreiras, para fazer a travessia de uma carga nunca antes realizada. Desta vez, a embarcação do barqueiro Eliziário dos Santos, morador da região, transportava uma equipe de saúde da família junto as tão esperadas vacinas contra a covid-19.

 

Para ele, levar as vacinas para sua comunidade foi uma tarefa bastante gratificante. “Me sinto muito feliz em ter trazido a vacina para a Ilha. Agradeço ao SUS, às enfermeiras, à equipe. Para mim foi muito gratificante”, afirmou.

 

 

 

 

A equipe de saúde da família, formada por uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e uma agente comunitária de saúde, realizou a imunização de toda a população quilombola maior 18 anos residente na ilha. Ao todo, foram vacinados 30 quilombolas, entre homens, mulheres, jovens e idosos cadastrados para receber a vacina após serem integrados ao Plano Nacional de Imunização como grupo prioritário.

 

 

A primeira pessoa vacinada da ilha foi Luciene Santos Leal: “Para mim é um privilégio ser a primeira vacinada do nosso povoado de Ilha Grande. Isso é muito importante, ainda bem que chegou entre nós, fico feliz por já ter tomado a vacina”, disse ela.

 

 

Luciene Santos Leal

 

 

Entre os vacinados também estava dona Maria Madalena dos Santos, 75 anos, marisqueira e líder comunitária da região. “Nasci e me criei aqui. Tive 14 filhos aqui. Passei um tempo fora, mas voltei para minha ilha, que é muito boa. Não troco aqui por cidade ou lugar nenhum, aqui é um paraíso. Aqui nós vivemos muito felizes”.

 

“Agora que nos vacinamos vamos aguardar a segunda dose, e enquanto tiver médicos, enfermeiros e vacinas, aceitamos que venham a ilha. Agora o samba vai voltar”, afirmou ela sorrindo.

 

 

 

Dona Maria Madalena dos Santos, 75 anos

 

 

A enfermeira Guadalupe Nicácio reforça que há uma dificuldade no acesso dessa população à unidade de saúde mais próxima, assim como há também dificuldade da equipe de saúde se locomover até a ilha, no enquanto, realizar a vacinação dessa população foi uma ação muito importante. "A população quilombola está sofrendo bastante nesse período de pandemia. E a vacina aguardada há tanto tempo, desde o início da pandemia, é a esperança que toda a população do mundo espera para colocar um ponto final nessa pandemia. É a esperança de todos nós, e para eles não é diferente. Trazer essa vacina, essa dose de esperança para essa população que é tão carente de atenção e acesso à saúde, é muito gratificante para mim enquanto profissional de saúde", ressaltou ela.

 

 

Equipe de saúde da família formada por Guadalupe Nicácio (enfermeira), Vanessa Porto (técnica de enfermagem) e Valéria Ferreira (agente comunitária de saúde). 

 

 

Uma comunidade quilombola é formada por descendentes de pessoas escravizadas, que se refugiavam em quilombos durante o regime escravocrata que perdurou por mais de 400 anos no nosso país.  Em Ilha Grande, vivem atualmente 35 quilombolas.

 

 

 

 

 

 “Essa vacina era esperada por todos. Nós somos um povoado pequeno e temos que nos cuidar. Os moradores aqui na maioria são todos idosos e somos poucos jovens. Tomamos a vacina para proteger todo mundo, principalmente os idosos da ilha. A gente não podia sair para lugar nenhum, só comprar comida e voltar. Agora é só felicidade”, afirmou Letícia Leal, 19 anos, estudante.

 

 

 

Letícia Leal, 19 anos, estudante

 

 

A previsão da secretaria de saúde de São Cristóvão é retornar à ilha em 8 e julho, após o período de 3 meses, para a aplicação da segunda dose da vacina AstraZeneca.

 

 

Ilha Grande, São Cristóvão (SE)

 

 

Fotos: Heitor Xavier