Fé e tradição: população sancristovense ocupa as ruas para a confecção dos tapetes de Corpus Christi

09/06/2023 - 16:48 Atualizado há 22 horas



 

Centro Histórico de São Cristóvão, 08 de junho de 2022. Em um trajeto de 1200 m, nove ruas tiveram o chão coberto de madeira inutilizável, sal grosso, pó de café, cascos de sururu e massunim, anilinas e pó xadrez. Os principais ingredientes, entretanto, são a tradição  e a fé, que transformam todos esses materiais nos tapetes de Corpus Christi. 

 

Para a tradicional confecção, sancristovenses com mais idade e as novas gerações todos os anos são movidos às ruas da Cidade Mãe para produzir a passagem para o sagrado e reverenciar o sangue e o corpo de Cristo. Para isso, são necessárias dezenas de pessoas que desde às 05h se mobilizam para construir uma nova história dessa tradição secular. 

 

Entre essas pessoas está Vânia Correia, a senhora que há 12 anos participa da organização da confecção dos tapetes. Ela conta que é a fé e o amor por São Cristóvão que a inspiram a, todos os anos, independentemente das adversidades, contribuir com a tradição: 

 

“Este ano foi bem difícil, tivemos alguns contratempos, eu enfrentei um problema de saúde, mas quando a gente faz com amor, o resultado é esse: olhamos pra esse chão e está repleto de esperança, fé e simplicidade. Tudo isso só é possível pela união do povo que ama essa cidade. A procissão e a missa que ocorrem após a produção dos tapetes são o mais importante, porém, os tapetes mantêm as tradições do corpo de Cristo, que vai passar por eles”, relatou. 

 

 

Vânia Correia, organizadora

 

 

Se por um lado a participação dos sancristovenses com mais idade, ao longo da história, foi fundamental para construir essa tradição, por outro, é a contribuição das novas gerações que garante a continuidade dessa celebração no futuro. Jovens como Gabriel Ferreira, Roberto Teles e Roberto Júnior: 

 

“Eu sou de Nossa Senhora do Socorro e vim pela primeira vez para os tapetes. Estou gostando muito da experiência” destacou Gabriel Ferreira. 

 

“É a minha primeira vez e eu gostei demais. Os tapetes são arte e cultura. Tá todo mundo de parabéns aqui em São Cristóvão” ressaltou Roberto Teles.

 

“É bom demais reunir todos os amigos curtindo, se divertindo e fazendo todas as artes que tem ali pra fazer”, celebrou Roberto Júnior.

 

 

 

 

Gabriel Ferreira, Roberto Teles e Roberto Júnior (da esquerda para a direita, respectivamente)

 

 

A tradição que une diferentes gerações também tem o poder de transpor barreiras e alcançar pessoas como o estadunidense Joe Kay. Ele conta que a sua vida é dividida entre o Brasil e os EUA e em sua passagem por aqui, não poderia deixar de conferir essa celebração de fé e cultura, junto com a sua família:

 

“É minha primeira vez aqui em São Cristóvão. Já estive na confecção dos tapetes no México, mas quis vir conferir como é feito aqui e estou achando muito bonito. Vim com a minha mãe porque queria que ela pudesse ver”. 

 

 

Joe Kay, turista

 

 

Nas ilustrações dos tapetes, símbolos que expressam a fé e os sonhos, como o de uma sociedade ecologicamente sustentável, com educação de qualidade, saúde e com menos desigualdade social. Também há espaço para o orgulho, traduzido no símbolo da Unesco, que há 13 anos reconheceu a Praça São Francisco como patrimônio cultural da humanidade. É a oportunidade de contemplar toda essa beleza que atrai pessoas como a família Maia, que veio de Aracaju para prestigiar a celebração: 

 

 

 

 

“É a primeira vez que a gente veio conhecer São Cristóvão e aproveitamos para ver os tapetes porque já havíamos visto e ouvido matérias na TV e no Rádio sobre essa celebração”, ressaltou Thiago Maia. 

 

“O mais bonito é ver a participação dos moradores na construção. É lindo”, elogiou Laila Maia. 

 

 

Família Maia, turistas

 

 

Dona Antônia Santos também veio com a sua filha de Aracaju para conhecer a tradição dos tapetes. “É a primeira vez que venho ver os tapetes. Vim com a minha filha e estou admirada. Está tudo muito bonito ", pontuou.

 

 

Antônia Santos, turista

 

 

A solenidade de Corpus Christi ocorre 60 dias após a Páscoa e celebra o sacramento do sangue e corpo de Jesus Cristo. Já os tapetes têm origem europeia e chegaram ao Brasil na época da colonização. Para a Igreja Católica, a prática remete à acolhida de Jesus em Jerusalém, quando as pessoas cobriram as ruas de ramos e mantos para a passagem do Messias.

 

 Em São Cristóvão, além da procissão e da missa, a Fundação Municipal de Cultura e Turismo João Bebe Água (Fumctur) trabalha em conjunto com a equipe organizadora do evento, igreja e voluntários, para manter viva a tradição secular da confecção dos tapetes que cobrem as ruas do Centro Histórico.

 

O prefeito Marcos Santana, que tradicionalmente participa da celebração confeccionando os tapetes,  destaca a importância do evento para o calendário turístico e cultural da cidade. “Esse é um momento muito importante para São Cristóvão. Para além da importância religiosa, essa é uma construção coletiva que mantém uma tradição secular, atrai turistas, gera emprego e renda”, explicou. 

 

 

Marcos Santana, prefeito (esquerda)

 

 

 

 

 

 

Fotos: Dani Santos.