Ambientado em São Cristóvão, filme “Anarriê” ganha exibição nos EUA e na Argentina, retratando a diversidade das quadrilhas juninas

11/05/2023 - 15:49 Atualizado há 21 horas



 

“Há muita magia na dança, nos festejos e nos corpos dissidentes, uma fórmula fortificada quando acompanhada de coragem e certa dose de ousadia, de malandragem. Quadrilha é um conglomerado de corpos com intenções semelhantes, com vontades próximas que, mediadas pela música, pela performance, conclamam manejos apenas possíveis graças a essa busca induzida: o palco proporcionando a proximidade com a plenitude”, com essa descrição, o diretor de cinema Neto Astério define as quadrilhas juninas. 

 

Essa manifestação cultural tão simbólica para o povo nordestino foi a inspiração para o curta-metragem Anarriê, dirigido por Astério com a contribuição de outros colegas cineastas. O foco da obra foi a diversidade das pessoas envolvidas nas quadrilhas juninas: jovens, idosos, homens e mulheres cisgênero e a presença crescente da comunidade LGBTQIAPN+, que representa uma quebra de paradigma nesses grupos culturais  que sofriam forte  influência de uma cultura machista. 

 

Neste mês de maio, o filme que acompanhou o processo de preparação e apresentação da quadrilha Pioneiros da Roça, durante o período junino, foi exibido no ‘Translations: Seattle Trans Film Festival’, um festival focado em filmes sobre pessoas trans, não-binárias e queer, que ocorre em Seattle, nos Estados Unidos. A mostra foi realizada entre os dias  4 e 7, com exibições virtuais e presenciais.

 

Já no próximo dia 17 a obra de Astério chega à Argentina, para ser apresentada no ‘Festival Internacional de Cine LGBTQIA+ - Amor es Amor’ com exibições presenciais na cidade de La Rioja, até 19 de maio. 

 

Antes do reconhecimento internacional, Anarriê já havia sido premiado no Brasil nas categorias melhor filme e melhor figurino do Festival Curta Taquary, uma premiação de cinema que ocorre de forma itinerante no interior de Pernambuco. 




  Inspiração para o projeto



Neto Asterio atualmente é membro da produtora audiovisual Floriô de Cinema e  assessor administrativo na Diretoria de Arte e Cultura da Fundação Municipal de Cultura e Turismo João Bebe Água (FUMCTUR), mas sua relação com  São Cristóvão é bem anterior. Baiano de nascimento, Neto adotou a Cidade Mãe desde sua chegada a Sergipe para a graduação em cinema e audiovisual na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ele  conta que foi a partir de um projeto de extensão acadêmica da instituição, coordenado pelo professor Diogo Velasco, que ele teve os primeiros contatos com o objeto do documentário. A iniciativa, que ocorreu em 2019, tinha como objetivo mapear quadrilhas juninas do estado para identificar a presença de pessoas LGBTQIAPN+.

 

 

 

Neto Astério, diretor do filme 



 

O projeto foi um passo importante para chegar até o documentário que foi produzido com recursos da Lei Emergencial Aldir Blanc, destinados para São Cristóvão e distribuídos através de um edital de cultura da FUMCTUR. Porém,  a construção da obra, segundo o autor, é dividida em duas partes: 

 

“Uma primeira versão ficou pronta  em 2019,  mas eu pensei que faltava alguma coisa e aí eu segurei o filme e eu fui matutando, criando um espaçamento também entre eu e o material para que eu tivesse um outro contato com ele e conseguisse pensar em uma montagem que me agradasse ainda mais”, relatou. 

 

Com os recursos da Lei Aldir Blanc, a obra foi finalizada em 2022, com cenas personalizadas, tratamento de som, tradução para o inglês e espanhol, além de distribuição internacional.




Quadrilha Pioneiros da Roça, um cenário de dança e diversidade 

 

 


 

 

De acordo com o autor, foi a diversidade de pessoas envolvidas na preparação da agremiação  o diferencial para que ela fosse escolhida como cenário para o curta. "Há um saldo de juventude, pessoas idosas e muita diversidade. Muitas mulheres trans e travestis estão fazendo uso da cultura popular junto a performance que é a dança”, destacou Astério. 



Por conta dessa diversidade, entretanto, a agremiação já teve que enfrentar obstáculos como a perda de pontuação nos concursos de quadrilha por ter uma mulher trans ou transexual dançando como dama. Abertas as portas, é considerável o número de pessoas LGBTQIAPN+  que participam da Pioneiros da Roça.



Apesar de ter a Pioneiros da Roça como cenário, Neto Astério pontua que o objetivo é que a obra seja capaz de exibir os elementos culturais que se relacionam a todas as quadrilhas nordestinas, de uma maneira que permita que as outras agremiações também se sintam identificadas de alguma forma. 



“O que muito me orgulha no Anarriê não está tão à vista, não é um símbolo, um elemento, é o andar da narrativa, ela tem um respeito muito grande pelo o tempo. Acho que tem a ver com o percurso até o filme ficar pronto, porque foi a primeira vez que isso aconteceu nos meus processos, ter um grande afastamento temporal e depois uma nova aproximação.  O anarriê tem um respeito pelo tempo, tem o momento de preparação, ensaio, o momento de nervosismo, a hora da apresentação e o depois. É como uma observação da vida, dos detalhes, da simplicidade e da convivência em comunidade”, concluiu Astério.

 

 

Confira o Trailler: 

 

 

Fotos: divulgação.