Catálogo de plantas medicinais utilizadas em rituais de religiões de matriz africana é apresentado para alunos da rede pública de São Cristóvão

16/04/2024 - 19:12 Atualizado há 4 horas



Na manhã desta terça-feira (16), o IMBA - Instituto de Meio Ambiente e Preservação à Natureza apresentou seu novo catálogo, intitulado “Plantas e ervas medicinais utilizadas nos rituais de religiões de matriz africana”, para alunos da rede de ensino municipal de São Cristóvão. Com o tema “Plantas medicinais, você conhece?", o evento foi uma contrapartida do projeto, que foi contemplado financeiramente pela Lei Paulo Gustavo, através da Fundação Municipal de Cultura e Turismo João Bebe Água (Fumctur).

 

O catálogo foi elaborado com o objetivo de ressaltar o uso e a manipulação de plantas e ervas medicinais nos rituais de religiões de matriz africana, abordando conhecimentos sobre as formas de utilização e o papel das ervas na saúde e espiritualidade, o que contribui, também, para a valorização e reconhecimento das liturgias das religiões africanas. Sua apresentação foi realizada por dois líderes religiosos do Candomblé em São Cristóvão: o Babalorixá Wilionedson de Oyá, do Terreiro Ilê asé Oya Funã, no Country Clube, e o Babalorixá Marcos Vinicius, do Terreiro Egbé ty Olodê, localizado no Rosa Elze.

 

 

Com mais de 30 anos de experiência no culto africano, o Babalorixá Wilionedson de Oyá ressalta que as ervas são indispensáveis para sua religião, pois sem ervas não existem os Orixás. “Para todos os rituais, temos que ter as ervas sagradas, tanto para os nossos banhos e nossas limpezas, como para os nossos chás. Falando em ervas, nós falamos de ancestralidade, principalmente a erva chamada Gameleira Branca, a Erva Ancestral. Temos várias imensidões de ervas que usamos no nosso culto”, explica o pai de santo.

 

Babalorixá Wilionedson de Oyá, do Terreiro Ilê asé Oya Funã

 

Segundo o Babalorixá Marcos Vinicius, a maioria das ervas tem diversas funcionalidades, como ornamentar, apaziguar, destruir, unir, atrair e curar, a depender do desejo e da intenção de quem a está utilizando. Por isso, é importante entender o que é válido e a importância das ervas para a natureza, que é fundamental para a vida de todos.

 

“É importante termos esse cuidado e trazermos nossas vivências enquanto Babalorixás, enquanto sacerdotes aqui da cidade de São Cristóvão, para que as pessoas tenham mais conhecimento e cuidado, porque sem essas ervas nós não teríamos como fazer o nosso candomblé, dar a vida para as pessoas que iniciamos, que cuidamos, ou algo relacionado. A erva é fonte de vida, é utilizada para benzimento, para chá, incenso, banho, para diversas necessidades”, afirma. 

 

Babalorixá Marcos Vinicius, do Terreiro Egbé ty Olodê

 

As tradições religiosas da cultura africana valorizam a conexão entre o físico e o espiritual, tendo o uso das ervas medicinais para cura e proteção como uma de suas práticas mais antigas. Ao preservar essa tradição, é mantida também a memória ancestral de quando os curandeiros e líderes espirituais eram responsáveis pelo conhecimento das propriedades curativas e seu uso em rituais sagrados. Além disso, o uso de plantas medicinais é uma medida complementar e integrativa ao tratamento e prevenção de doenças, o que ajuda na manutenção da saúde.

 



O presidente do IMBA, Valmir Silveira, destaca que o instituto uniu forças a adeptos das religiões de matriz africana por ser uma comunidade que faz suas obrigações de proteger as matas e os rios. Dessa forma, foi construído um trabalho coletivo e ambiental, que incentiva a preservação da natureza. 

 

“Essa cartilha vai ajudar bastante até pessoas que fazem faculdade e estudam em escolas para saber o que são as folhas, para que servem e onde podem ou não ser usadas. Nós estamos levando o projeto nas escolas e em todos os eventos que tenha pessoas para que possamos melhorar o vínculo com a matriz africana e saber para que servem as ervas”, afirma o presidente.

 

Valmir Siqueira, presidente do IMBA

 

O IMBA desenvolve atividades de conscientização ambiental e de incentivo à prática religiosa há mais de 20 anos, junto a mais de 150 comunidades de terreiros cadastradas na entidade. O instituto conta com 527 agentes colaboradores, que exercem trabalhos em São Cristóvão e outros municípios do estado.

 

 

Neto Astério, assessor administrativo na Diretoria de Arte e Cultura da Fumctur, pontua que a Cidade Mãe tem muitos terreiros em seu território e as religiões de matriz africana carregam cultura de várias formas, seja no contato com a natureza, nas danças, na música. Por conta disso, quando foi aplicada a Lei Paulo Gustavo, diversas propostas surgiram.

 

“Tivemos muitas propostas vinculadas a casas de terreiro e dentre elas esse catálogo promovido pelo IMBA. Nesse projeto, eles apresentaram a contrapartida e como administração pública nós sempre indicamos possibilidades para que essas atividades aconteçam da melhor forma. Esse espaço de formação e de diálogo para que aconteça essa atividade, fomentando essa cultura que existe na cidade e dentro dos terreiros”, reforça.

 

Neto Astério, assessor administrativo na Diretoria de Arte e Cultura da Fumctur

 

Os estudantes presentes não só ouviram os conhecimentos sobre as plantas e ervas, mas puderam sentir texturas e cheiros das plantas, vivenciando as informações sobre suas utilidades. Para Maria Clara Rocha, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Gina Franco, foi uma experiência importante para imergir em novas culturas: “Por mais que eu não seja dessa religião, eu sei que é muito bom e eu aprendi sobre a religião dos outros para respeitar e também entender mais sobre as ervas”.

 

Maria Clara Rocha, aluna da EMEF Gina Franco

 

O catálogo “Plantas e ervas medicinais utilizadas nos rituais de religiões de matriz africana” está disponível em formato digital e é possível acessá-lo clicando aqui.

 

 

Fotos: Dani Santos