Prefeitura entrega, pela primeira vez, Prêmio D. Joaninha a mulheres sancristovenses

25/07/2022 - 16:27 Atualizado há 2 dias



”A batalha é contra o racismo/ Racismo estruturado e errado, reflexo fácil de sentir/ Discriminação que perdura, já incorporado a nossa cultura temos que admitir/ As cores da desigualdade lembram nossos ancestrais do passado, é como veias que sangram igual negro castigado por provar que é capaz ele paga por seus ancestrais”. Com esse cordel, a cordelista Alda Santos Cruz falou em nome de todas as homenageadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) durante a entrega do Troféu Dona Joaninha na tarde da última sexta-feira (22).  Criado pela coordenação de igualdade racial da Diretoria de Direitos Humanos, o Troféu foi entregue a 20 mulheres que se destacaram em suas atividades no município de São Cristóvão.

 

Alda Santos Cruz, cordelista

 

A iniciativa faz parte da comemoração do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha instituído em 1992 na República Dominicana, e do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído no Brasil em 2014, ambos comemorados em 25 de julho.

 

As mulheres premiadas se destacaram em atividades ligadas as artes, a cultura e no serviço público. Dessa forma foram homenageadas artesãs, folcloristas, cordelistas, professoras e servidoras públicas das mais diversas áreas. Dona Madalena, líder do Samba de Coco da Ilha Grande, foi uma das mulheres homenageadas e se disse feliz em receber o prêmio. “Nós temos que elogiar nossa cor. Somos mulheres lutadoras, criei sozinha 14 filhos e tenho 29 netos e 15 bisnetos e é ótimo ser reconhecida”, disse ela.

 

Dona Madalena, líder do Samba de Coco da Ilha Grande 

 

Já a bailarina, artesã e empresária da moda Rídaci Evangelista se declarou feliz pelo momento: “é valorização do pouquinho que a gente contribui para essa terra, é muito bom. É a nossa história, é a nossa cultura e acho que cada dia mais tem que ser valorizado, são nossas raízes, então esse reconhecimento é muito gratificante”. A professora e gestora da SEMED, Marleide de Jesus, outra homenageada, também se disse muito feliz. ”Eu todo tempo digo que eu quero ser gente, gente cheia de amor, não gente cheia de dor. Eu quero ser gente sem cor, mas com todas as cores”, declarou em poesia.

 

Ridací Evangelista, artesã

 

Marleide de Jesus, homenagada

 

O prefeito Marcos Santana, em sua fala durante o evento, disse que o troféu reflete e reconhece a atividade de cada uma das mulheres homenageadas: “seja no serviço público, seja na comunidade é uma atividade, uma ação que engrandece enquanto mulheres e exige da sociedade o reconhecimento pela luta, porque enquanto mulheres e mulheres pretas são o dia todo e a todo dia discriminadas”.  Ele disse ainda que a gestão está começando dentro de casa, a partir da SEMAS e ramificando por toda administração. “O racismo institucional está dentro da gente, foi assim que fomos criados, foi assim que foi colocado para a gente desde cedo e a gente precisa se livrar dessa praga que permeia todas as atividades humanas no Brasil, as atividades sociais, as atividades laborais. É por isso a importância desse prêmio, de lembrar, num dia como hoje, mulheres como Joaninha, como Madalena, como Rosangela, como Marleide, como tantas outras. É um momento de lembrar, mas não ficar apenas na lembrança e na reflexão, mas fazer que essa reflexão sirva de ensinamento para todos nós no dia a dia, na relação que temos, e fazendo esse dever de casa a gente extrapolar para a sociedade, para todas as atividades que a gente executa e transformar numa política diária”, enfatizou o prefeito.

 

Prefeito Marcos Santana

 

A secretária de assistência social, Luciane Rocha lembrou que o papel dos agentes públicos é de ser garantidores de direitos universais para toda a população. “Ao homenagear essas mulheres, trazer à luz essa discussão, porque são mulheres que contribuem com a sua prática, com sua história e que a gente precisa fazer referência. Estamos iniciando uma jornada para construir uma política pública sem racismo, conversando e dialogando e implementando algumas ações que vêm nessa perspectiva de promover a igualdade racial. Que todos tenham conhecimento que a gente está aqui hoje, dando um recado que nós vamos entrar em todas as estruturas de todas as instituições e órgãos municipais, apesar da diretoria de direitos humanos, está localizada na Secretaria de Assistência, ela é uma diretoria que perpassa por todas as secretarias. O diálogo vai passar por todas as secretarias porque é o nosso desafio e nossa obrigação”, declarou.

 

Lucianne Rocha, secretária de assistência social 

 

Joaninha

 

Nascida em  23/06/1937, na cidade de Simão Dias, Joana Maria de Jesus, faleceu no dia 17 de março de 2022 aos 84 anos. Ao longo da sua vida exerceu a profissão de parteira, rezadeira, marisqueira e artesã sendo seu legado reconhecido na cidade de São Cristóvão pelo ofício de rezadeira. Sobre ela o prefeito Marcos Santana declarou que “Dona Joaninha mariscava maçunim, sururu, aratu, mas ela verdadeiramente mariscava amor”.

 

Mulher negra, latina e caribenha e Tereza de Benguela

 

O Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha foi instituído em 1992, no 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana. A data surgiu para dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo. No Brasil, desde 2014, comemora-se o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII.

 

Fotos: Dani Santos